8 de fevereiro de 2011

Greves de sexo


            Nunca tive grandes problemas quando se trata do sexo oposto. Quero dizer, não sou o tipo de pessoa que fica lamentando grandes amores ou coisa do gênero. É perda de tempo, entende? Afinal, quem liga para amor quando existe o sexo? É mais rápido, porque não requer grandes conquistas. Mais fácil, porque não requer desculpas. E infinitamente mais prazeroso. O prazer supera tudo e cura qualquer tipo de dificuldade. Não quer mais, amigo? Então passa pro próximo da fila!
            Houve um parceiro, no entanto, que me tirou do sério. Sabe aquele amigo de infância que você acaba trocando beijos e depois acaba indo para algo mais? Pois é, ele era esse indivíduo mesmo. Tirou meu BV aos 12 anos, e quase tirou minha virgindade também. Ainda bem que não tirou, ou a coisa ia pro lado sentimental!
            Mas posso dizer que tirando a virgindade ou não, nós tivemos ótimos momentos na cama. Ele era o parceiro ideal, já que era meu amigo e saia da linha quando eu não queria nada sem se magoar. Da mesma forma, por ser homem, sempre queria sexo, então eu não passava nenhum tipo de dificuldade.
            No entanto, houve um verão em que eu estava na seca e ele também. Como a cidade era pequena e não havia muito a ser feito, o sexo tornou-se nosso passatempo integral. Porém, comecei a achar esquisito quando ele começou a me exibir para os seus amigos, abraçando-me em público e coisa e tal. Não comentei nada, porque confesso que o cara era tão lindo, que usar-me como troféu era até gratificante. Mas é claro que não pude deixar de sacanear.
            Naquela sexta, tínhamos combinado de ir até à praia de noite. Depois de lá ainda estávamos sem destino, mas na dúvida sempre havia o carro dele. Então ele me buscou de carro, e chegamos à praia em cerca de dez minutos, já que a cidade era pequena e não existia trânsito.
            Nós nos sentamos em cima de uma canga que eu havia levado, e não tardamos a começar os beijos habituais, sem nem sequer conversar. Afinal, como podíamos nos encontrar somente nos finais de semana, tínhamos que aproveitar o tempo perdido. Foi naquele dia que soltei a bomba.
            — Você não consegue ficar sem mim, não é?
            — Como assim? — perguntou, assustado.
            — Já acostumou comigo, ué — respondi — Estamos nos pegando há tanto tempo que não consegue mais ficar sem.
            Ele ergueu uma sobrancelha e me olhou como se eu fosse louca. Em seguida, abriu um sorriso irônico, e virou-se para o mar, como se tivesse se interessado pela natureza.
            — Então vamos ver quem não consegue ficar sem.
            — O que quer dizer com isso? — perguntei, enquanto juntava as peças e não gostava muito do que o quebra-cabeça estava mostrando.
            — Vamos ver quem vai ficar mais desesperado. Greve de beijo e sexo, em outras palavras.
            Filho da puta!
            Eu me pergunto todos os dias depois do ocorrido. Quem foi o filho da puta que inventou a greve de sexo? Com certeza não foi o homem, porque o sexo masculino não teria tanta inteligência. Uma mulher mal comida? Definitivamente não, já que sexo para alguém mal comido é algo extremamente essencial. Então vamos para a única alternativa que resta... A mulher mais feliz do mundo na cama, a que seduz todo mundo e não precisa de ninguém.
Porque vejamos, tentem seguir o meu raciocino. Sexo é algo essencial. Privar-se disso só é possível quando obedecemos a uma certa lei da oferta e da procura. Se a pessoa tem muito, não faz tanta falta assim, entende? Mas se tem pouco, a situação fica mais complexa. Então foi definitivamente uma mulher linda, bem comida, e cheia de homens que criou a greve de sexo! Vamos matá-la, por favor!
— Pois bem, então. Que venha a greve de sexo e beijo!
Greve de sexo, beijo e palavras. Não havia muito o que conversar naquela situação, afinal. Estava um com mais vontade do que o outro, sentindo a eletricidade chamando por cada parte do corpo... E o pior de tudo, não havia como ceder. Afinal de contas, quem admitiria que não conseguia agüentar quando tudo se tratava apenas de sexo rotineiro, sem qualquer tipo de sentimento envolvido?
E assim ficamos no silêncio por um bom tempo, mas tive uma brilhante ideia. Homens gostavam de se sentir no controle, mas a verdade é que as mulheres tinham o controle. Então estava na hora de recuperar isso...
— Quer saber, Gustavo? Isso está ficando ridículo. Acho melhor terminarmos por aqui nossos encontros ocasionais, porque está claro que o sexo não está sendo nada saudável.
            Confesso que eu nem sequer sabia o que estava dizendo, mas tinha a esperança de que mesmo minhas palavras não tendo sentido algum, seria mais do que o suficiente para alarmá-lo.
            — O que está dizendo?! Claro que não, está tudo ótimo assim!
            — Prove, então!
            Ele me puxou, e me beijou.
            — Vê isso? Sem preocupação com nada. É exatamente isso o que precisamos.
            Eu não pude deixar de gargalhar. Havia dado certo, afinal das contas.
            — Ganhei.

           Ele me amaldiçoou, e eu o calei com um beijo. Confesso que não teria agüentado muito aquela greve imbecil, mas quem se importa? Ah, e só para informar: Ainda tenho pensamentos homicidas quando penso na criadora da greve de sexo.

1 comentários:

Érika disse...

Ahh eu adoro seus contos! Principalmente quando o fato é verídico. HIUHAIUSHUIAHSIHA
(L)

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