7 de fevereiro de 2011

Existência estúpida


ㅤㅤㅤEla se dirigiu até a varanda de seu apartamento e analisou a altura. Eram sete andares. Não o suficiente para um suicídio bem sucedido. Foi até a cozinha e abriu a primeira gaveta, olhando para todos os talheres com o cuidado de um assassino admirava suas armas. A diferença era a de não ser uma assassina, apesar de sentir vontade de sair matando todo mundo. Preferiu matar a si própria, já que nunca gostou da ideia de ser estuprada na cadeia por alguma mulher. Era hetero, e não seria quando estivesse fodida na vida que mudaria.
ㅤㅤㅤA coragem, no entanto, não lhe vinha. Pegou a faca afiada, e começou a brincar com a lâmina, fazendo pequenos cortes nos dedos, e gostando da ideia de se cortar mais profundamente. Mas ainda assim, mesmo seduzida por aquela coisa prateada que parecia chamá-la, não conseguia.
ㅤㅤㅤPensou até mesmo na overdose. Sempre brincara que morreria com 25 anos de overdose. Por que não adiantar 10 anos? 10 anos a mais, 10 anos a menos... Que diferença faria?
ㅤㅤㅤMas as palavras repetiam-se em sua cabeça incansavelmente. Não somente as dele, mas de todos que se importavam, ou que pelo menos pareciam se importar. Naquela altura do campeonato nem sequer sabia quem se importava de fato. Eram conselhos tão clichês e vazios que sentia vontade de dar um tiro na cara de cada um que abria a boca para falar.
ㅤㅤㅤO que eles sabiam, afinal? Estavam tão felizes com a existência pacata deles e a realização dos amores sempre idealizados que não podiam entender. Não podiam opinar.
ㅤㅤㅤE a coragem não vinha. Os métodos giravam em sua mente. Mortes das mais variadas possíveis... Mas a porra da coragem não vinha!
ㅤㅤㅤSentou-se no chão, e odiou-se a si mesma naquele momento. Não conseguia fazer nada, era essa a verdade. Não prestava para nada. Sua existência resumia-se ao nada, e pedir mais seria pedir demais.
ㅤㅤㅤJogou a faca contra a parede, e esta quicou estupidamente, caindo no chão logo em seguida. A garota teve a sensação de que o maldito objeto zombava de sua cara, assim como a vida inteira parecia zombar. Por fim concluiu que devia estar ficando louca. Levantou-se, pegou uma caixa de chocolate qualquer e se entupiu. Sua mente brincava com a ideia de que engordaria, mas quem se importava?

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