18 de setembro de 2010

Cabelo, sapatos e brincos

Ela corria de um lado ao outro, lutando contra o tempo que tinha. Sapatos, calça, blusa, brincos, colares, pulseiras, anéis, maquiagem, a bolsa certa, o cabelo perfeito,... A lista era tão grande que se perdia no meio de seus afazeres e esquecia-se do mundo ao seu redor. Suas colegas de apartamento observavam sem nada dizer. Não faziam ideia do que diabos acontecera, mas sabiam de uma coisa: Luiza estava obsessiva.
Terminou de se arrumar e passou segundos, talvez minutos, em frente ao espelho. Um mero detalhe era importante. Uma de suas colegas, observando sua irritação, obsessão, ou qualquer que fosse o sentimento não saudável, teve que perguntar:
“Lu, o que diabos está acontecendo?”
Luiza finalmente saiu de seu transe em frente ao espelho e virou-se para a sua amiga, tentando forjar a cara mais despreocupada possível.
“Ah, é só minha mãe que está vindo me visitar.”
Para as duas colegas de quarto tudo de repente ficou mais claro. Óbvio, como não tinham pensado nisso antes? As possibilidades que antes formularam pareciam até mesmo ridículas naquele instante. Encontros... Era óbvio que Luiza não se importaria com a sua aparência nem mesmo para aquilo.
Só havia uma pessoa que a deixava neurótica e essa pessoa era sua mãe. Também pudera, a mulher era uma perfeita dama que prezava por toda a perfeição possível: Linguajar adequado, aparência impecável e a atitude invejável. Era esse o seu lema.
Luiza, por sua vez, odiava aquele maldito lema. Agradecia a Deus por ter conseguido sua própria independência e ao mesmo tempo rezava para que não tivesse que encontrar sua mãe tão cedo.
Mas o dia de encontrá-la um dia chegava. Nem que fosse uma vez por semestre ou ao ano. Aquele momento chegara e Luiza, então, preparava-se. Naquela altura de sua vida, o fato de sua mãe não conhecê-la nem um pouco já não importava mais. Apenas adaptava-se para que não precisasse ouvir ao mesmo discurso tolo que sempre ouvia.
Sapatos, calça, blusa, brincos, colares, pulseiras, anéis, maquiagem, a bolsa certa, o cabelo perfeito,... A lista era repetida em sua cabeça várias vezes e verificada com um perfeccionismo fora do comum.

2 comentários:

Marco Aurélio disse...

Maravilhoso texto... Parabéns...

beatriz albarez disse...

Profundo. Muios se sentem reprimidos, não apenas pelos pais, mas pela imagem que a sociedade julga ser a correta.
Sumida heeein !
bia (:

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