24 de junho de 2010

A última música

Sentiu-se sozinho em meio à uma multidão. Naquele mar de gente não havia nenhum rosto que reconhecesse, ninguém que pudesse chamar de amigo. Suspirou fundo, mas logo depois sorriu para as pessoas que o encaravam. Era somente naquela hora que conseguia aliviar-se de tudo o que temia. Ali, cantando, todos os seus problemas pareciam longes e até mesmo resolvidos.
Pegou o microfone e cantou como se estivesse cantando para uma parede. Seu agente dissera uma vez que o que mais o impressionava era a facilidade com a qual conseguia se dirigir ao público. Ele, por sua vez, não espantava-se. Afinal, o público que o assistia não representava nada em sua vida. Claro, eram espectadores. Mas nenhum lhe tinha valor sentimental algum.
“Obrigado”
Como sempre o agradecimento saiu um pouco tímido. Fazia-o por educação, mas não sabia ao certo pelo que estava agradecendo. Pelo carinho do público? Talvez. Mas ainda assim não era suficiente, porque eles veneravam um ícone. Se soubessem quem realmente era com certeza sairiam correndo.
“Dedico essa música para vocês, que sempre estiveram ao meu lado. Eu amo vocês, nunca se esqueçam disso!”
E mentalmente agradeceu à sua mãe que estava lá em cima no céu. Fora ela quem dera o único presente que recebeu. A sua vida. E era por isso que continuava vivendo, porque precisava mostrar para sua mãe que todo o sacrifício valera a pena.
Fechou os olhos e começou a cantar a faixa final de seu show. A letra sempre lhe emocionava e as lágrimas eram inevitáveis. Devido a isso sempre utilizava óculos escuros no show. Diferentemente do que a mídia pensava, os óculos lhe serviam apenas para esconder a sua dor.

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