28 de junho de 2010

Breve e triste conversa

“Você me odeia, não é?”
A criança fez essa pergunta depois que a mãe lhe bateu. No rosto havia a marca e nos olhos havia a tristeza. Era-lhe comum receber tapas ou esporros. Tornara-se tão comum para ambos que o conformismo era parte daquela rotina. Aquela pergunta, porém, não era nem de longe rotineira. Pelo contrário, parecia longe de qualquer possibilidade de acontecimento. Longe ou não, aconteceu.
Ele, pequeno e pouco nutrido, olhava a mãe de um jeito tristonho e ao mesmo tempo curioso. Ela o olhava sem saber o que responder. Como era uma mulher simples, sem muita escolaridade, acabava expressando-se muito mal. A pergunta lhe pegou de surpresa e a interpretação da mesma juntamente com a resposta demoraria a ser feita diante de tal fato.
A resposta veio tarde, mas veio. Ela, movida por um certo impulso atrasado, disse:
“Não odeio não”
Simples vocabulário que revelava a verdade. Mas que não fazia muito sentido para a criança. Se não odiava, por que batia?
“Por que me bate?”
Ele verbalizou a pergunta, sem ser impedido por qualquer medo de alguma censura. Como apanhar fazia parte da rotina, errar ou acertar não tinha importância lá muito grande.
E ela, desta vez, não respondeu. Lembrou-se do passado em que também apanhava e lembrou-se do presente a qual freqüentava. Não era de todo feliz, pelo contrário e acabava por descontar essa infelicidade no menino. Não sabia ao certo o porquê, mas fazia.
“Não sei.”
Se ela não sabia ao certo, ele então não sabia mais ainda. Mas não perguntou mais nada, porque assim como a mãe, não tinha certa dificuldade de expressar-se.

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