22 de fevereiro de 2010

O algo e o tudo

— Sabe, eu ando meio cansado de tudo.

Disse isso com a cabeça jogada pra trás e com os braços apoiados no chão, mantendo-o sentado de uma forma que não caísse. Tinha olhos profundos e negros, lábios finos e uma pele tão branca que chegava a ter necessidade dos mais altos números do filtro solar. Era meio pequeno, mas ainda assim meio alto. Uma altura considerável que o colocava ali, no anonimato, por não ser baixo e nem alto demais. Apenas na medida certa.

— De tudo? Por que? — perguntou o outro, esse já um pouco mais alto, mas ainda assim, não alto demais.

— Sei lá... Só ando meio desmotivado, sabe? Sem vontade de fazer nada.
— Então porque não faz e descansa?
— Descansar de tudo?
— É. Isso aí.

Mantiveram-se em um silêncio momentâneo. O meio alto por estar refletindo sobre a fala do outro e o mais alto por estar observando a garota que caminhava não muito longe dali. Estavam em uma parte afastada do clube, onde ainda era possível escutar os gritos dos bêbados do bar e ao mesmo tempo se manter na paz da solidão.

— É, talvez assim eu ficasse com saudade do tudo.
— Pois é.
— Vou descansar então.

Levantou-se e começou a andar na direção da saída do clube enquanto o outro o observava se afastar sem nada entender. Durante um ou dois segundos deixou a dúvida ser mostrada somente no olhar, mas depois de um tempo verbalizou a mesma:

— Ei, onde você vai?
— Descansar de tudo, oras!
— Mas onde?
— Longe de tudo.

E enquanto o mais alto via o meio alto se afastar, perguntou-se onde diabos ficaria o lugar longe de tudo. Afinal, em todo lugar havia algo, formando então o tudo. Pensando dessa forma, onde ficaria o longe de tudo?

1 comentários:

Fernanda disse...

Ótimo texto, confesso que me fez refletir também sobre o que seria o longe de tudo. Não cheguei em uma conclusão concreta ainda.
Sua escrita é ótima, parabéns.

Aguardo teu comentário no (antigo Meu próprio caminho) She's Insane ( http://sheisinsane.blogspot.com/ ), um beijo

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