— Mamãe, mamãe!
Devia ser mais ou menos o quinto grito da semana. Dalva sempre acordava quando o escutava, levantava-se e ficava encarando a porta entreaberta enquanto tomava coragem para entrar. O receio não se devia ao medo e sim à fraqueza que sabia ter. Julgava ser capaz de desmoronar a qualquer momento enquanto a filha lhe falava sobre o sonho. Para que não fizesse isso, encarava a porta enquanto tentava tomar forças para escutar sua filha de três anos.
Entrou com o sorriso falso no rosto e foi até a cama da filha enquanto falava exatamente da forma das noites anteriores:
— O que foi, filhinha?
Apesar de a falsidade estar estampada no rosto, a garota mal parecia notar tal fato. Apenas estendeu os braços para que a mãe a pegasse no colo e apoiou a cabeça em seus ombros assim que estava no aperto seguro da mãe.
— Eu tive um sonho!
Repetiu da mesma forma, como se tal fato fosse uma tremenda novidade. Seria se aquela quinta vez fosse na verdade a primeira.
— Como o sonho era?
E aí vinha a história... A mesma história que conseguia fazer com que Dalva sentisse um tremendo aperto no peito e ansiasse para que aquela maldita dor cessasse.
— Sonhei que papai vinha ver a gente. Ele chegava com flores pra você e um ursinho pra mim. Sabe, aquele ursinho que pedi a ele no último natal!
Sim, Dalva sabia. Foi a última promessa que Lucas havia feito e não cumprira. Passaria despercebido se não fosse a última. Sempre lembrávamos da última vez.
— Legal filhinha!
— Quando papai vai voltar, mãe?
A pergunta surpreendeu Dalva, pois não havia sido perguntada nas outras vezes. No entanto, ao invés de Dalva mentir e dizer um fraco “logo”, apenas disse de forma desolada:
— Não sei filhinha.
E dessa vez a garota notou a tristeza na voz. Ficou quieta e abraçou a mãe de uma forma forte, tentando transmitir de forma inconsciente a força que possuía.
7 de fevereiro de 2010
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1 comentários:
caramba, é meio triste.
e as crianças sao sempre as vitimas. =/ os desejos estampados nos sonhos, mas que sao apenas sonhos. ;x
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