É noite. Ela paga para que as
pessoas a façam companhia. Insones. Olhos abertos, coloridos como corujas. Uns
diferentes de outros. O homem do bar. O menino de rua com frio. A prostituta
atormentada. A mulher casada infeliz. A criança que quer passar a noite
acordada. Azul. Verde. Preto. Castanho. Vermelho. Pupilas dilatadas com a vigília.
Já fui criança. Tive aqueles olhos
atentos. Vidrados no relógio. O ponteiro que passa. Um minuto, uma hora... Vai
logo. Rápido. Quero virar a noite. Saber como é ficar acordada. A atenção no
quarto da mãe quieto. O medo de ela acordar. O gosto de dormir depois. Morto.
Exausto. Com o ursinho preferido nos braços. Aquele nome ridículo infantil. Mas
inocente. Essa inocência que conquista a verdade. E se perde.
Se perde no problema. Na mentira. Na
vida. E aí ficamos insones. Cada um com olhos diferentes. Rotinas estranhas.
Uma teia de remorsos. Calúnias. Mentira em qualquer lugar.
A noite não paga nada. Só é mais
gentil do que o dia, porque esconde. Ofusca a lágrima. Não revela os olhos
vermelhos que se iludiram. A maquiagem borrada.
O sol escancara. Esquenta quem só
quer um pouco de frio e o seu aconchego.
A noite é pilantra. É assim. Porque
espera à espreita. A lua vê tudo e mostra. Ninguém percebe. A luz não parece suficiente.
Somos todos insones. Queremos
esconder o medo. Mas a porta está ali, entreaberta. O monstro pode entrar.





0 comentários:
Postar um comentário