4 de abril de 2012

Frio com café

As gotas indicavam um céu choroso, e as nuvens tentavam esconder a cara vermelha do sol. Mais abaixo, em um singelo espaço da Terra, alunos do Ensino Médio acordavam. O edredom cobria e aninhava, fazendo surgir aquela preguiça toda. A água escorria e dava vida aos olhos, que até aquele momento fechavam-se em um protesto sem voz. Peças de roupas, cama desarrumada, preciosidades diversas, cadernos e livros ocupavam o pequeno abrigo quadrado. O vento não entrava, impedido pela janela fechada e pelo ar condicionado, que tentava substituí-lo, sem sucesso, por não ser tão bravio. Aos poucos o pijama era trocado pela roupa de todos os dias. O jeans já surrado, a camisa preguiçosamente amarrotada, e os sapatos pretos ou brancos e alguns marginais de outra cor.

Foi nesse clima que caminhei por minha escola, observando funcionários, professores e alunos. O frio instalava-se, invadia os ossos, e ao mesmo tempo criava aquela atmosfera familiar. O café até tinha mais importância, a de aquecer aqueles todos. Um falatório calmo era a trilha sonora. Fofocas, conversas conteudistas, ou as simples risadas sem motivo, abrigadas na inocência que ainda existia. Casacos amaciavam a pele, aconchegavam o corpo. Os mesmos sorrisos de todos os dias presentes nas expressões.

A hora caminhava lenta, seguindo o ritmo da manhã. Aos poucos, as pessoas foram para as salas de aula, alertadas pelos ponteiros que sinalizavam a passagem do tempo. Uma multidão de mochilas descansava nos ombros dos jovens. Sonhos projetavam-se em falas que por muitas vezes eram vistas como imaturas. O projeto futuro. Dinheiro, arte, matemática, linguagens, ciências, humanas, e... E a dúvida, alojada no peito, junto com a dor do medo. Alguns poucos terceiranistas decididos, a maioria com uma fagulha daquela interrogação. Faculdade, trabalho, família, e... O “E” invadia. A pequena palavra significativa. Eu quero isso E não posso. E não entendo. E meus pais? E eu? O E. Sem mencionar o mas. Amo a arte, MAS.

Mas o que, meu caro? Não vê? Discursos prontos, falando para seguir o desejo. O resto é resto. Decida o curso, e só. O mundo, porém, não é só o só. É mais. Vai além do querer.

Falatórios. Perguntas. Decisões. A linguagem projetava-se na mente, criando reviravoltas irracionais. O tempo ameaçava passar. Já se foi um mês, meu Deus! Só restam mais ou menos trinta e cinco semanas. O prazo curto causava lágrimas não decisórias. Adolescentes faziam uma visita rápida na infância, querendo o colo da mãe, mas ainda assim cientes de que era preciso crescer. Dezessete, dezoito anos. O peso da maioridade equilibrava-se em corpos frágeis, que pouco tempo atrás descobriam o primeiro amor.

Calma lá, rapaz. Não é bem assim. É só o frio do inverno. O verão ainda vai chegar, e as flores da primavera também. Beba um café para aquecer. Senta aí, vamos conversar. Dê um tempo ao tempo. Tudo vai passar.

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