12 de maio de 2010

Encontros familiares

Nunca fui de ir a encontros familiares. Traumatizei-me logo na infância, quando minhas tias distantes diziam que não me viam há muito tempo, que cresci muito e logo depois falavam em tom audível para minha mãe o quão fofo eu era. Minha mãe apenas sorria ao ouvir o comentário e ria quando ambas apertavam minhas bochechas e exigiam por um beijinho.

Sabe quando você se sente um cachorro?

Então, era assim que eu me sentia.

Quando adquiri maturidade suficiente para confrontar minha mãe, comecei a ser esperto e a inventar diversas desculpas para não ir a encontros familiares. Vez ou outra selecionava algum para não ficar muito suspeito. Estes normalmente eram aniversários de primos, já que eu sabia que haveria algo de interessante para ser
feito.

Minha adolescência foi ainda mais livre, parei de selecionar determinados encontros e passei a não ir em nenhum. Era muito bom ficar em casa jogando videogame enquanto minha mãe saia e dizia para que eu me comportasse.

Foi nessa época que decidi que assim seria para sempre. Nunca mais, nunca mais e nunca mais. Minha carta de alforria estava conquistada.

Posso dizer que aproveitei muito de minha liberdade, mas garanto que gostaria de ter aproveitado mais. Anos depois sai da vida de solteiro que era repleta de festas para a escravidão. Fui acorrentado, e para completar a situação tive que reviver o trauma, mas mil vezes pior.

Agora não havia tias me chamando de fofinho e me apertando. Quem dera se tivesse! Eram os familiares de minha esposa e dentre eles havia a pior. A sogra. Eita mulher insuportável! Parecia fazer o possível e impossível para me irritar. Captava meus erros como um tigre percebia sua presa. Para completar, sempre havia o irmão de minha esposa que se achava íntimo o bastante para se intrometer em minha vida sexual.

- Como ela é de cama? É do tipo tradicional ou progressista?

Por ser professor de história chegava a utilizar as expressões históricas para descrever o sexo. Tradicional seria o sexo comum, já o progressista seria aquele repleto de novidades. Eu mereço!

Eu apenas respondia de forma tímida, em uma tentativa de conquistar a simpatia de pelo menos alguém:

- Ela é boa, muito boa.

E o irmão dela ria gargalhando e dizia que era segredo de irmão quando alguém perguntava do que o assunto se tratava. Quem me dera se fosse de fato assunto de irmão, já que sei que sexo passa muito longe de qualquer assunto fraternal.

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