Lá se ia a sua última fagulha de vida. Eu podia sentir muito bem. O veneno que lhe era colocado nas veias estava quase no fim, mas apesar de não estar finalizado, seus olhos já fechavam-se obedientes. Não sabia que alguém podia se sentir tão feliz em morrer, mas agora via que era possível. Não podia julgá-la, afinal, a vida era sua e o sofrimento também seu. Da mesma forma que não podia julgar, também não podia saber a dor de uma doença como aquela. Mas sabia, sim isso eu sabia, o quanto devia ser difícil. Presenciara durantes meses a dignidade dela se esvaindo, pouco a pouco até que finalmente cedi a seus desejos e ignorava os meus. Teria que viver sem ela, mas sabendo que sua ausência a fez feliz.
Assim que o veneno de fato acabou, olhei para o médico que a olhava com um certo olhar triste e quase a olhei do mesmo modo, mas não o fiz.
— Acabou, não é?
Perguntei isso já sabendo da resposta, mas ainda assim necessitando de uma confirmação. Nunca conseguiria aceitar sua morte sozinho, precisaria de alguém para afirmá-lo. Ela era tão cheia de vida, tão feliz... E de repente tudo havia mudado.
Suspirei fundo e larguei a sua mão, mas ainda passando a força que pretendia mentalmente e depois verbalmente:
— Descanse em paz, querida Lizzie. Tenha aí a felicidade que não teve aqui.
Não impedi que a lágrima caísse, mas a enxuguei antes que outras ameaçassem lhe fazer companhia.
11 de fevereiro de 2010
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1 comentários:
sem palavras. poucas linhas, mas profundo conteudo.
amo-te ler!
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