Em baixo, um morro se estendia para uma descida. O carro
ia, quase que sozinho. Por trás do volante, alguém que se encontrava no
automático. Sinais que eram ora verde, ora vermelho e, em um lampejo, laranja.
Pessoas que andam. Lembrei-me das minhas melhores noites. Todas elas quando eu
estava longe. Será que é para todo mundo assim? Memórias só são incríveis
quando distantes? Agora estou perto. O problema é que a gente sempre está perto
de alguma coisa. Então a questão não deve ser o espaço, mas a pessoa. Ou talvez
o tempo.
Um vinho e duas pessoas que se encontravam de frente para a
outra. Décimo encontro. Tive uma vontade súbita de sumir. Os diálogos já não
eram tão rasos. Eu já não falava sobre o meu filme ou livro favoritos.
Aprofundava-me na saudade. E, querendo ou não, em angústias. Falava, também, de
sonhos. Sonhos sempre se relacionam com o futuro. Qual será o destino que eu
realmente desejo para mim?
Segurei a mão dele. Olhos que me viam. Eu não gostava
desses. Preferia apenas os que me olhavam.
“Bem, deve ser impressão. Eu estou.”
Desviei a minha atenção para o relógio. O tempo passa,
sinalizado por ponteiros que circulam. O que a minha ansiedade poderia
significar? Foi então que pensei. Podia ser a necessidade da fuga. Não se
tratava de longitudes, mas da vontade de não estar. Não há comprometimento
quando você pertence a lugar nenhum.
“Eu estava olhando um trabalho na Suiça. Está tendo uma
oportunidade interessante lá.”
Ele riu. Seco. Colocou as mãos nas têmporas, enquanto
fechava os olhos. Parecia que eu tinha lhe dado uma facada no peito.
“Suiça, hã? Pelo visto não há nada que te prenda aqui.”
Voltei para diálogos anteriores, quando dissera exatamente
isso para alguém: “Não quero que ninguém me prenda”. Porque aí eu não teria
motivo para ficar e conseguiria transitar. A questão é que eu já não tinha
tanta certeza. Eu não sabia bem onde queria estar.
“Por que você não consegue ser feliz?”
Mas a felicidade era tão subjetiva quanto a liberdade. Ninguém
sabia bem do que se tratava. Vivíamos em busca dela. Mas quando poderíamos, de
fato, dizer a encontrar? Não respondi, apenas perguntei:
“O vinho está bom?”
Ele disse que sim e, cansado, suspirou.
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